Kung Fu

Kungfu, WuShu, artes marciais chinesas

O Kung-fu (em chinês mandarim 功夫 Gōngfu) é um termo genérico que expressa alta maestria em um domínio. O Kung é a profundidade de uma arte, sua mais alta expressão. Pode-se, portanto, ter o Kung-fu da caligrafia, poesia, pintura ou mesmo culinária.

Desde a moda do Kung-Fu "Bruce Lee", todos os estilos de boxe chinesa são comumente chamados de Kung-fu.

O termo Wu Shu 武术 wǔshù, por sua vez, designa literalmente as artes marciais. É utilizado nos dias de hoje de forma muito comum e com justiça, já que existe desde a antiguidade. Deve-se notar que foi substituído de 1928 a 1949, sendo preferido o termo Guo Shu 国术 guóshù (a arte nacional). A designação Wu Shu retornaria, portanto, após 1949 com a criação do "Wu Shu moderno" (forma ginástica moderna da arte marcial antiga).

Mosteiro de Henan

A lenda diz que o Wu Shu nasceu no templo de Shaolin na província de Henan, ao norte da China. Este pequeno templo (originalmente) foi construído em 464 para propagar o budismo Theravada (grande veículo).

O Wu Shu desenvolveu-se lá após a chegada de Da Mo (Bodhidharma). Parece que ele era um príncipe de uma casta guerreira de brâmanes que praticava técnicas de combate.

Ele teria vindo da Índia para encontrar o imperador Wu Di, durante a dinastia Liang (502-557). Devido ao mau rumo que a audiência com o imperador tomou, ele teria se refugiado no templo de Shaolin. Ao chegar, teria encontrado os monges em uma condição física deplorável e lhes ensinou movimentos baseados em animais como ginástica.

Esses movimentos teriam dado a base para as artes marciais de Shaolin. Ele teria então partido para meditar por 9 anos diante de um muro em uma caverna. Deste retiro teria nascido a seita budista Chan (Zen), corrente meditativa.

Uma lenda que circula sobre ele diz que um dia, durante uma sessão de meditação, ele teria adormecido. Ao acordar, furioso por ter dormido, teria cortado suas pálpebras e as jogado no chão. Elas teriam dado origem ao primeiro arbusto de chá da China...

O templo ganhou seus títulos de nobreza quando treze monges salvaram a vida do imperador Li Shimin da dinastia Tang (618-907).

Hoje, Shaolin é considerado o berço das artes marciais chinesas e um provérbio chinês proclama a esse respeito: "Todas as artes marciais sob o céu nasceram em Shaolin". Esta hipótese é, aliás, refutada por certos textos anteriores à criação do mosteiro.

Shaolin do Sul

Não houve apenas um único mosteiro de Shaolin na China. O do norte é o mais conhecido, mas pode ter existido até três no sul.

1- Mosteiro de Putian

O primeiro estaria localizado na vila de Lin Shan, no monte Julian, não longe da cidade de Putian, província de Fujian. Construído em 557 sob a dinastia do Norte e do Sul (420-589), foi destruído durante o reinado do imperador Kang Xi (dinastia Qing 1644-1912).

2- Mosteiro de Quanzhou

O segundo é o mosteiro localizado na montanha Dong Yue, nas proximidades da cidade de Quanzhou, província de Fujian. Foi construído em 611 sob a dinastia Tang (618-907). Destruído três vezes, em 907 (cinco dinastias e dez reinos 907-960), 1236 (dinastia Song do Sul 1127-1279) e finalmente em 1763 por ordem do imperador Qian Long (dinastia Qing 1644-1912).

3- Mosteiro de Fuqing

Por fim, o terceiro está localizado na montanha Shi Tzu, não longe da cidade de Fuqing, província de Fujian. Provavelmente foi construído durante a dinastia Song (960-1279). As informações sobre ele são raras.

Pensar que todos os estilos de kungfu do sul descendem do Shaolin de Henan, dada a extensão da China e a enorme diferença técnica, é uma heresia.

Os diferentes estilos

Mais a sério, a China catalogou várias centenas de estilos diferentes de Kungfu. Alguns são estilos familiares, outros religiosos, seitas ou clãs.

Não se diz: "Há tantos estilos de boxe na China quanto moedas no bolso de um rico comerciante"?

Eles são classificados por estilo de Wu Shu do Norte e estilo do Sul. Um ditado diz a esse respeito: "perna ao norte, mão ao sul", mesmo que na prática não seja realmente o caso...

Eles também são catalogados em estilo interno (neikong 内功 nèigōng) e externo (waikong 外功 wàigōng). Os estilos externos seriam baseados na força física e os estilos internos na respiração. Mas novamente, na prática, muitas vezes não se faz distinção...

A China catalogou 56 etnias diferentes. Alguns desses povos desenvolveram sistemas de combate muito bons. Entre eles, as etnias Hakka e Hui se destacam.

O povo Hakka é um povo nômade. Seus Wushu se distinguem por posturas com pernas apertadas, permitindo permanecer bem estável no chão. Suas maneiras de trabalhar são facilmente reconhecíveis, pois geram força por meio de um movimento das costas em arco e se empenham em proteger a linha central.

Eles criaram boxes muito famosos, como o Long Ying (boxe da forma do dragão), o Jook Lam Tong Long (boxe do louva-a-deus da floresta de bambu), para citar apenas esses.

A etnia Hui, originária das províncias de Ningxia e Gansu. Os Hui são Han convertidos ao Islã.

Eles desenvolveram certas boxes muito conhecidas, como Cha Quan, Hua Quan, Hong Quan ou ainda Xin Yi Liu He Quan (boxe do coração e da mente das seis coordenações).

Existem diferenças enormes entre os estilos de Wushu. Alguns gostam de projetar o adversário com agarres, outros preferem o combate à longa distância, e outros ainda o combate corpo a corpo. Existem várias distâncias e, é claro, várias estratégias.

Alguns estilos do norte:

• Chang quan: punho longo
• Cha quan: boxe muçulmana da etnia Hui
• Hong quan: boxe vermelha
• Mizong quan: boxe do rastro perdido
• Liu he quan: boxe das seis coordenações
• San huang pao chui: boxe do canhão dos três soberanos
• Fanzi quan: boxe giratória
• Baji quan: boxe dos oito extremos
• Tang lang quan: boxe do louva-a-deus
• Mian zhang: palma de algodão
• Ying zhao: garra da águia
• Hua Jia Men: a porta da família Fa

Alguns estilos do sul: (descritos aqui no dialeto cantonês, mais adequado à sua origem)

• Pak mei: boxe do monge sobrancelha branca
• Long ying: boxe do dragão
• Hung gar: boxe da família Hung
• Lee, Choy, Mok, Lau: boxe das famílias Lee, Choy, Mok, Lau...
• Wing chun: boxe de Wing Chun
• Chow gar: louva-a-deus do sul
• Ark fu moon: boxe do tigre negro
• Um ying kune: boxe dos cinco animais
• Fu zhao pai: boxe das garras do tigre
• Ngo cho kuen: boxe dos cinco ancestrais
• Pak hok kune: boxe da garça branca...

Alguns estilos internos:

• Taiji Quan: a boxe do cume supremo
• Bagua Zhang: a palma dos oito trigramas
• Xing Yi Quan: a boxe do coração e da mente
• Liu He Ba Fa: 6 princípios, 8 coordenações
• Neijia Quan: boxe interna de Siming Shan

Não é raro que uma boxe entre em duas categorias ao mesmo tempo. Pode-se citar, por exemplo, o Choy Lay Fat, que é um estilo norte/sul, já que é uma síntese de três boxes, ou ainda o Pak Mei, que é um estilo interno/externo...

A maioria das boxes também tem frequentemente vários ramos, dependendo dos mestres das linhagens descendentes, como o Pak Mei de Hong Kong e o de Foshan, ou o Taiji Quan, estilos Yang, Chen, Wu, Wu Hao, Sun, Zhao Bao...

Alguns estilos são geralmente trabalhados em conjunto com outro estilo "primo". O Baji Quan é trabalhado com o Pigua e pode ser combinado com Fanzi Quan ou Tong Bei. Da mesma forma, os estilos internos como o Da Sheng Quan com o Xin Yi Quan ou o Pak Mei com o Long Ying.

E para terminar, não é raro que estilos muito diferentes tenham o mesmo nome, por exemplo, o Hong Quan e o Hung Gar, o primeiro é uma boxe do norte e o segundo do sul, ou o Chow Gar, que é um nome de família e do qual dois estilos levam o nome; o louva-a-deus do sul e a boxe da família Chow...

Em resumo, de que se perder, e é bem por isso que se fala da floresta dos estilos...